Fotografias

Os tempos dos químicos agindo sobre os grãos de prata, tão precisos, fizeram parte e ocuparam meu organismo por esses dias. Agora não me lembro direito, mas em algum momento me deu muita alegria em ver as fotos. Realmente, apesar do pragmatismo dos cálculos químicos, a exatidão científica da coisa, ela exige muita prática, para que várias áreas do pensamento (não necessariamente concentradas) trabalharem com diferentes tarefas simultâneas. Apagando a luz, depois de deixar todos os quatro objetos à mão, que são: tesoura, filme, espiral e tanque, certifico-me de que não há luz vazando pelo pano preto. Então, tudo pronto, olho pro negro preto, preto de ausência estampado no meu nariz, e num silêncio zumbidor e surdo, faço a primeira e mais prazerosa coisa: arrebentar a bobina do filme e tirá-lo pra fora. Fazer essa parte na madrugada de segunda pra terça, o escuro e o surdo silêncio, ambos completos, me foram como uma ducha gelada no pensamento; primeiro um medo curioso, que adiante refresca. As idéias eram espantadas pela única que havia sobrado, a idéia insolúvel da casa em silêncio, do porão debaixo da casa e do preto do silêncio dela. Então, minhas mãos e meu tato a trabalhar. Recortar a ponta inútil do filme e enrolá-la meticulosamente num espiral de ferro, de forma que as superfícies do filme nunca se toquem, nas diversas voltas. Difícil dizer o quanto isso dura, mas arrisco 10 minutos, pois ainda não consigo sem desfazer parte que percebi mal feito. Enrolado o filme todo no espiral, é só colocar no tanque. Já se ascende a luz. Aí, vem a parte dos banhos químicos, cada um a seu tempo.

11/02/10


Revelei e ampliei três fotos que parecem três fantasmas irmãos. Um é um santo - mendigo com uma capa preta andando na Barão do Cerro Azul, estático num movimento confiante e maluco. A outra foto, as costas de um senhor de paletó com mangas vazias, desfocado. A terceira lembra uma boca de algum animal marinho gigante, ou um robô bizarro com tentáculos vindo de uma ficção científica. Não se é da minha cabeça, mas tem algo que liga essas três fotos; todas guardam algo velado, sombrio, manco, e bem de leve, um tom apocalíptico...

20/02/10

os 3 fantasmas de Curitiba

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