Fragmentos sobre o movimento

ou Diário de Viagem

I


Viajar é um prolongamento absurdo da ida ao mercado, da volta na esquina. Permanecer intermediário. Pra sentir e ouvir as evidências do movimento, o ruído do veículo que me traga pra frente.

Não há nada que fique, tudo se vai. Por vezes me vi falando e agindo como se não tivesse me trazido junto. Não trago nem um pensamento ao vento que traga. O olho se estende como a planície, e engole as cores do mundo. Sentei-me na traseira da uma moto às 7:30 da manhã de um domingo nublado e chuvoso no Uruguai, segurei-me nos ferros do assento e fui mais veloz do que em qualquer outro momento. As mãos grudadas, eu mal as sentias, umidade espessa do ar me engomando as dobras do rosto. A estrada completamente vazia. Vez em quando uma larga subida ou descida, mas na maior parte do tempo tudo plano. De alegria engoli aqueles vinte quilômetros, caminhar depois foi dormente.

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